Que democracia queremos? O que podemos trazer para repensar uma democracia mais próxima? Estas e outras questões foram o mote para o debate na Conferência “Geração Liberdade: o papel da Juventude na Reconstrução da Democracia”.
O encontro decorreu na passada sexta-feira, dia 26 de Abril, ao final da tarde no Complexo Pedagógico da Universidade do Algarve, campus da Penha, no âmbito do EJA’13 – I Encontro de Juventude do Algarve, que está a ser organizado pela Cooperativa ECOS, no quadro do projecto Algarve 2020.
Bruno António, da ECOS, foi o moderador de um painel de quatro convidados que partilharam experiências mais e menos pessoais sobre o tema da participação e da cidadania. Entre os convidados, listavam-se Pedro Santos, do Movimento 12 de Março, Jorge Orlando, da Direção Nacional do Instituto Português do Desporto e da Juventude, Ivo Santos, do Conselho Nacional de Juventude e, ainda, Marlene Guerreiro, uma jovem autarca que desenvolve o seu trabalho na Câmara Municipal de S. Brás de Alportel.
Todas interessantes, as intervenções diferenciaram-se apenas pelas temáticas. Ivo Santos contribuiu com uma reflexão sobre a economia, a crise e a juventude, fazendo uma rápida incursão nos números para explicar como “chegámos até aqui e como vamos sair disto?” numa referência inequívoca à crise financeira e da dívida pública e às consequentes crises económica e social.
O pragmatismo deste orador recordou-nos a importância dos jovens nos compromissos políticos referindo que esta é, geralmente, proporcional ao peso do seu voto (ou inexistência dele) nos atos eleitorais. Mas não se ficou pela constatação dos fatos. Ivo Santos também propôs caminhos, lembrando que todos terão de participar na construção das soluções e que é hora de “ensaiar outros mecanismos de participação”, já que os modelos atuais estão desacreditados também junto dos jovens.
Marlene Guerreiro, num tom mais pessoal, partilhou a sua experiência enquanto jovem autarca, sublinhando que foi a sua atitude participativa e interessada que a catapultou para a ação política. “Ninguém me foi buscar a casa”, disse para ilustrar a sua convicção de que a “política é a arte de servir o povo e todos podemos participar politicamente”.
Para esta jovem autarca, os jovens têm de mostrar o que sabem e o que fazem, mas sem ficar à espera do reconhecimento dos outros. Apenas fazendo “aquilo em que acreditamos”, disse Marlene Guerreiro.
Perante o descrédito em que se encontra a ação dos políticos, a autarca referiu que enfrenta essa realidade diariamente, mas “há que encarar essa imagem e procurar mudar isso” através da participação e da ação.
Marlene Guerreiro referiu dois exemplos de processos envolvendo jovens na comunidade de São Brás de Alportel que, a seu ver, ilustram bem a força do acreditar. O “orçamento participativo de crianças e jovens que ninguém sabia muito bem o que era no início” e que hoje é a base de projetos em curso no concelho, que partiram de propostas desenhadas inicialmente pelos jovens.
A iniciativa “Mostra-te”, um outro projeto que conta com o apoio da autarquia de São Brás de Alportel e que partiu da ideia de três jovens que penas queriam mostrar os seus talentos, as suas ideias e os seus projetos.
Jorge Orlando, da direção nacional do Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ), fez uma abordagem mais institucional, mas aproveitou a oportunidade de estar perante uma plateia de jovens para relembrar que a “democracia não é um sistema perfeito” mas que ainda não se criou outro melhor e que a participação, através dos mecanismos democráticos – como as eleições -, é ainda o que garante a sua continuidade.
Este orador fez uma rápida exposição sobre a área de relações internacionais do IPDJ, a sua área de intervenção por excelência e explicou como funciona a Europa com os seus dois sistemas: União Europeia e Conselho da Europa, nos quais os jovens são chamados a participar através de modelos de discussão cooperativa e de co-decisão.
O representante do IPDJ partilhou ainda alguns dados do último relatório sobre a situação dos jovens face à participação, referindo que o “desencanto” face aos modelos tradicionais está na origem das novas formas de participação. Disse também que as oportunidades de comunicação trazidas pelos novos media, como fóruns de debate online, redes sociais, etc., estão a inovar em matéria de participação democrática.
Jorge Orlando destacou o fato de a sociedade civil se estar a apropriar da democracia, mas realçou como fundamental para esse processo que as velhas e as novas gerações saibam conviver e comunicar.
A conferência fechou com a intervenção de Pedro Santos em representação do Movimento 12 de Março. Este orador recordou o processo de “nascimento” do M12M, destacando que se tratou de “um grito de alerta contra os decisores políticos, que tinham de ouvir as pessoas”. A partir da iniciativa individual de um grupo de amigos, o movimento cresceu e mobilizou centenas de milhares de pessoas de todas as gerações, que foram para as ruas em protesto no dia 11 de Março de 2011. “Não tivemos apoios e tentámos aproximar as nossas ideias dos políticos. Pedimos às pessoas que levassem uma folha de papel com as suas motivações”, contou Pedro Santos. Todos os papéis entregues pelos participantes das manifestações de 12 de Março foram compilados e entregues no parlamento, sendo hoje parte do espólio da biblioteca da Assembleia da República, partilhou ainda este orador.
No rescaldo das movimentações do 12 de Março de 2011, o grupo de amigos formalizou a iniciativa cívica no que hoje se conhece por Movimento 12 de Março, que intervém na sociedade, propondo alterações legislativas, de que é exemplo a proposta de lei sobre precariedade e a proposta de criação de uma comissão de auditoria cidadã às contas públicas.
Em tom de conclusão Pedro Santos desafiou ainda os participantes a visitarem o site do mais recente projeto do M12M, a academia cidadã (www.academiacidada.org) e a participarem nesse projeto de intervenção e ação cívica.
A conferência terminou com o convite para um jantar tertúlia aos presentes, que decorreu na cantina da Penha da Universidade do Algarve